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Você vive de procrastinar?

  • Foto do escritor: Tiago Santos
    Tiago Santos
  • 14 de jun. de 2019
  • 9 min de leitura

Atualizado: 15 de nov. de 2023


relógio ilustrativo

Sim. Esse é mais um texto sobre procrastinação e eu imagino que você já esteja bem calejado

de ouvir falar sobre este assunto. Mas eu desejo lhe oferecer uma perspectiva diferente sobre o assunto, abordando alguns aspectos que talvez você ainda não tenha reparado sobre este tema.


Então tome um pouco de tempo, pegue uma xícara de chá e mergulhe comigo nessa aventura do conhecimento que quer te ajudar, no fim das contas, a ser uma pessoa que realiza.


A procrastinação é uma característica de todos os seres humanos, não faz acepção de pessoas. Todos nós procrastinamos, o tempo todo. Isso é absolutamente normal e necessário para a nossa sanidade, ainda mais em se tratando de tempos tão corridos e intensos que vivemos e com o volume de informação a que temos acesso.


Assim sendo, já podemos quebrar agora mesmo a noção da procrastinação como inimiga. É apenas um mecanismo que nós humanos temos para filtrar, selecionar e priorizar nossas atividades.

Então não tem problema procastinar? Podemos encerrar o texto?

Calma, tem problema sim, já pegou a sua xícara de chá?


Veja, a coisa toda com a procrastinação existe porque para muita gente ela se tornou crônica. O que isso significa? Que para essas pessoas o ato de adiar os afazeres se tornou sistêmico, fora de controle. Alguns estudos apontam que 20% dos adultos são procrastinadores crônicos. Isso mostra que existe sim um problema sério que precisa ser apresentado, discutido, debatido e combatido.


O procrastinador crônico, percebendo ou não, vai aos poucos minando a sua produtividade. Ele vive imerso a uma rotina de auto sabotagem que rouba seu tempo, seus sonhos e seus projetos de vida. Como eu não desejo isso para ninguém, resolvi escrever esse texto para ajudar.

Mas o que é a procrastinação crônica?

Está aí uma boa pergunta. Antes de saber se você tem um problema, você precisa conhecer o que é o problema, sob o risco de ter sua tranquilidade afetada desnecessariamente.

Procrastinador crônico é aquela pessoa que atrasa o início ou no término de suas tarefas de forma intencional, frequente e sistemática:

  1. Intencional porque não podemos nos culpar por conta de imprevistos, não são eles quem criam um problema desses (a não ser quando criamos o problema e colocamos a culpa nos imprevistos);

  2. Frequente porque às vezes a gente quer adiar mesmo e não tem problema, mas quando a coisa se repete frequentemente ela vai ficando mais séria;

  3. Sistemática porque isso não acontece com uma tarefa só, ela acontece com várias tarefas, de maneira a deixar nossa vida parcial ou totalmente desorganizada, com aquela noção de “não consigo sair do lugar”.

E aí, de posse dessas informações você já pode começar a olhar para dentro de si com franqueza, para descobrir se tem sido um procrastinador crônico ou se esse mecanismo, no seu caso, está dentro dos limiteis aceitáveis (aceitáveis para quem? Para você mesmo, ora).


Quanto mais crônica a procrastinação, mais ela vai causando desconforto na gente, nos trazendo ansiedade, arrependimento, sensação de fracasso ou de impotência perante a vida. Você está se sentindo assim?

Só que pode haver impactos mais profundos:

Primeiramente, as sensações que listei acima (culpa, desconforto, arrependimento, ansiedade etc.), quando presentes de forma muito intensa e constante, podem trazer efeitos físicos na nossa saúde. Já falei um pouco sobre isso aqui.


Mas, além disso, a procrastinação crônica nos coloca em um círculo vicioso que pode ser devastador:

  1. Adiando tarefas você adia resultados;

  2. Sem resultados, sem recompensas;

  3. Sem recompensas, sem ânimo para fazer novas tarefas.

Fora o fato de que, muitas vezes, sem resultados, nós tentemos a procurar as recompensas de curto prazo (comida, sexo, drogas etc.).


Isso pode paralisar a sua vida.

Sem perceber, sua vida pode cair no fundo do poço porque você se permitiu ser um procrastinador. Isso é sério e acontece com muitas pessoas que ficam sem ânimo, sem energia, sentindo-se absolutamente incapazes, sentindo-se vencidas e paralisadas. Alguns casos mais extremos chegam mesmo à depressão, pessoas que sentem que tudo está perdido e perdem o desejo de viver.


Não quero te assustar viu? Apenas preciso te mostrar que é sim um assunto muito sério. Se você parou para ler esse texto, de alguma forma sente que isso afeta você, então eu te interpelo agora a se livrar de qualquer vestígio de procrastinação crônica.


Para isso, vou te ajudar a investigar o que pode estar acontecendo. A este ponto, talvez você queira mais uma xícara de chá.

O que causa a procrastinação?

São diversos fatores que temos a explorar, a começar pela nossa desorganização pessoal no dia a dia. Quando planejamos mal nosso tempo, quando não nos preparamos direito para imprevistos, quando estimamos mal o tempo necessário para realizar as tarefas, tudo isso nos leva a procrastinar.


Mas tem uma outra coisa: já observou que, muitas vezes, quando você está adiando uma tarefa que acha que vai ser demorada, ao realizá-la, descobre que não era tão demorada assim? Isso acontece muito: superestimar o tempo necessário para realizar alguma tarefa. E acontece porque achamos que ela é mais complexa do que realmente é. Bate aquela preguiça, você quer deixar pra depois, vai adiando e adiando. Isso se agrava também a depender do horário do dia. Dependendo do nosso nível de energia e disposição, a chance de bater aquela “preguiça” aumenta ou diminui.


Eu já dou umas dicas para vencer essas coisas e ser mais assertivo. Primeiro eu queria trazer à tona algumas possíveis causas, mais profundas, de porque procrastinamos.

Batalhas Internas

Você também já deve saber que nós temos duas grandes áreas cerebrais que nos governam. De forma resumida, a primeira, o córtex pré-frontal, é o que chamamos de consciência. É ela que nos ajuda a pensar racionalmente e fazer planos. Já a segunda, o sistema límbico, é o que chamamos de inconsciente ou subconsciente (tecnicamente a psicologia diferencia essas duas coisas, mas popularmente usa-se as duas palavras para significar a mesma coisa). O sistema límbico está ligado aos nossos instintos primitivos e à nossa sobrevivência.


Nenhum dos dois é inimigo, aqui também esse conceito não cabe. Enquanto o segundo nos ajuda a sobreviver, garantindo a manutenção do nosso corpo, as emoções e os sentimentos, o primeiro foi o responsável pela nossa perpetuação na terra, diferenciando-nos de todos os animais.


O sistema límbico tem uma linguagem e um jeito diferente de se expressar, de se comunicar e de ser saciado. Ele é guiado pelos sentidos e, como tal, precisa dos prazeres, de recompensas e as procura o tempo todo. Ele é focado no bom funcionamento orgânico do nosso corpo no momento presente, não se preocupa se um doce vai fazer mal no futuro, quer colocar aquela reserva de energia para dentro. Ele não se preocupa se aquela tarefa árdua vai trazer um benefício no futuro, ele quer economizar aquela quantidade de energia que é necessária para executá-la.


O sistema límbico se vale da quantidade de um hormônio chamado dopamina, o hormônio do prazer, para medir se está tudo bem com o organismo. E se não está, ele desperta em nós uma série de desejos para conseguir mais dopamina (sabe aquela vontade incontrolável de comer um chocolate?).


Já o córtex frontal, o consciente, é racional, é o sistema que pensa por meio das palavras e da razão. É ele quem faz planos. Ele não liga para a dopamina, pois consegue ver a vida além, olhar para as conquistas e projetos, conseguindo estabelecer um roteiro de ação. Consegue abrir mão de recompensas no presente para garantir coisas melhores no futuro. É ele quem consegue executar tarefas árduas, complexas, entediantes, chatas e desagradáveis.


Dito isso, podemos começar a compreender esse contexto de batalha interna ao qual todos nós estamos submetidos. Se nos deixamos entrar num ciclo de dopamina interminável, nosso cérebro vai sendo treinado a favorecer as recompensas de curto prazo. Dito de outro modo, quanto mais procrastinamos, mais tendemos a procrastinar. Mas se por outro lado não nos permitimos nenhuma recompensa, agindo sempre de forma pragmática, tentando a procrastinação zero, ignoramos o sistema límbico e ele, mais cedo ou mais tarde, vai dar o seu troco e nos sabotar, pois ele é muito poderoso.


É difícil, mas a solução passa por encontrar um equilíbrio que coloque em harmonia esses dois sistemas.

Encontrando a harmonia.

O primeiro passo para essa levantada da bandeira branca da paz, é ser franco consigo mesmo. Se há uma tarefa que você tem procrastinado muito, está mais do que na hora de se perguntar: eu quero mesmo fazer essa tarefa? Eu preciso mesmo dela?


Veja bem: o porque de fazer as coisas é algo profundamente emocional (e a emoção é a linguagem do sistema límbico). Se você precisa fazer uma tarefa árdua, mas que está em consonância com seus objetivos mais profundos, com seus sonhos e objetivos, aquela tarefa tende a se tornar leve, ou seja, ela tende a produzir dopamina também, mesmo sendo difícil e complexa.


Por outro lado, uma tarefa simples, por fácil que seja, se não estiver alinhada aos anseios do seu coração, tendem a não te entregar a dopamina.


Porque eu estou falando tudo isso?

Porque cada vez mais as pesquisas mostram, até com base nisso tudo que expliquei até aqui, que a procrastinação crônica não é apenas uma questão de falta de organização ou de planejamento mal feito, mas – principalmente – de uma falta de habilidade de lidar com as próprias emoções e de resistir aos prazeres imediatos.


Vejo claramente uma dificuldade enorme nas pessoas da minha geração em conhecer esse caminho, esse "aonde eu quero chegar", investigar e conhecer os anseios do coração. Há muita gente boa e inteligente com dificuldade para executar tarefas banais porque não se encontram nelas, porque não são desafiadas, porque não sentem que são necessárias para alcançar seus objetivos, porque não estão verdadeiramente comprometidas com aqueles objetivos ou mesmo porque não tem objetivos claros traçados. Eu posso perceber claramente que, para essas pessoas, o problema não é a tarefa chata em si, mas a tarefa sem um porquê.

Então o mais importante é esse porquê?

Eu tenderia a responder que sim, mas gostaria que fosse tão simples. Mesmo quando falamos de produtividade, os especialistas têm ensinado que se trata de um conceito relativo, que muda de acordo com a pessoa, com o dia, com o lugar, com o contexto etc.


A minha experiência tem mostrado que quando a pessoa sabe quais são seus objetivos, está comprometida com eles, atua neles e tem a sensação de caminhar rumo a eles, ela se sente produtiva e não se sente uma procrastinadora. Ela sabe que não está desperdiçando tempo e consegue valorizar o seu esforço. O amor por aquele objetivo faz com que as tarefas mais difíceis deixem de ser grandes sacrifícios, mesmo que haja sim certo nível de dor e de desgaste ao longo do caminho.


E, por incrível que pareça, essas pessoas não se vêem naquela famosa “correria”, não se sentem tão sobrecarregadas, estão mais em paz consigo mesmo, mesmo na prática despendendo um esforço enorme para dar mais de si a todo tempo.

Então, como achar esse porquê, vencer a procrastinação e ser mais produtivo?

Essa é a hora que eu te talvez te desaponte, pois não tenho todas as respostas. Faço isso, não para sair pela tangente, mas porque é de fato um desafio pessoal profundo e cada pessoa precisa descobrir, não apenas a sua resposta, mas a sua maneira de chegar a ela.


Existem, contudo, alguns caminhos que podem te ajudar. O primeiro deles é se abrir para novas formas de pensar. Aquela boa e velha máxima se aplica aqui: “não se pode ter resultados diferentes fazendo as mesmas coisas.” Complemento meu: também não se pode querer fazer as coisas diferentemente se você não muda a sua forma de pensar.


Vigie seus pensamentos, tome posse deles, descubra padrões, descubra crenças. Coloque essas duas partes de você para conversar, achar os objetivos em comum, testar novas soluções e combinar recompensas mais saudáveis. Tente desenvolver novas rotinas mentais que favoreçam um pensamento novo e criativo.


Muito pode ser feito. Faça alguma coisa!!!

Rompa o ciclo

Um conselho: não ache que você vai sair naturalmente dessa situação de procrastinação crônica, porque a tendência do circulo vicioso é agravar-se cada vez mais. O simples sofrimento causado pela procrastinação, pela sensação de impotência, não é suficiente para rompê-lo. Aliás, esse arrependimento só alimenta o circulo, como expliquei anteriormente.


O que realmente pode funcionar para mudar o hábito é uma avaliação sistêmica da sua vida, feita de forma honesta consigo mesmo. Traçar objetivos claros, que realmente vêm do seu coração.


Todos os seres humanos, na qualidade de filhos de Deus, são capazes de feitos incríveis. Todos! Não é diferente com você. Você só precisa romper esse ciclo, estabelecer um novo marco regulatório na sua vida e passar a agir com estratégia.

Como assim agir com estratégia?

É fato que existem várias técnicas de produtividade. Elas ajudam muito, eu não as dispensaria nem mesmo diante do projeto mais legal do mundo.


Lembra que eu disse que ia dar algumas dicas? Então: agir com inteligência, estratégia e pensamento tático vai te motivar, por exemplo, a estabelecer mentores ou tutores para cada um dos seus projetos, tutores esses que possam te cobrar, estabelecer prazos e até pequenas punições em caso de procrastinação.


Você também saberá que tarefas complexas podem ser divididas para dar ao sistema límbico as dopaminas que ele tanto quer no curto prazo (um checklist diário é ótimo para isso).


Você poderá, ainda, descobrir que a hora do dia que você reserva para fazer uma tarefa poderá fazer toda a diferença.



Acho que seu chá já acabou né?

Bem, não vou mais tomar do seu tempo, apenas quero concluir reforçando que o equilíbrio é a chave de tudo. Se você tem a disposição honesta e sincera da mudança, se está comprometido e agindo a respeito, não se frustre com os deslizes. Pender para os dois lados é necessário para alcançar o equilíbrio.


Ninguém se torna produtivo do dia pra noite. Vai haver erros, falhas e culpa, isso é próprio do ser humano. Mas quando acontecer, lembre-se se que o sol nasce de novo e você tem uma nova chance amanhã. Seja amoroso consigo mesmo, perdoe-se. Depois, volte ao planejamento, aprenda com os erros e vai a campo de novo.


Não tem limite, você deve se levantar todas as vezes que cair, e com o tempo vai cair cada vez menos.

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