Vou direto ao ponto: vivemos em uma época onde a maioria das pessoas tem empregos que apequenam seus espíritos.
O que quero dizer com isso? Vamos lá: o mundo está mudando muito rápido. As novas gerações são cada vez mais diferentes das anteriores e o acesso à informação é cada vez maior. Enquanto as gerações mais antigas foram educadas, treinadas ou programadas (chame como quiser) para conseguir um bom emprego ou concurso público, trabalhar duro, sustentar a família, conformando-se com as adversidades, tudo para garantir aos filhos uma vida melhor que a deles próprios, as gerações mais novas cresceram ouvindo as pessoas dizerem:
Você vai longe!
Você pode ser tudo o que quiser!
Quem acredita sempre alcança!
Esse fenômeno tem causado um enorme inconformismo nesses jovens, que têm tido acesso a muita informação que reforça essas afirmações acima. Por um lado, não posso negar, isso tem gerado consequências emocionais preocupantes, pois parece estar levando muita gente para fora da da realidade (pretendo discutir isso mais profundamente em um outro artigo). Mas, por outro lado, tem aberto espaço para um momento ímpar de transformação social e é essa mudança que eu quero abordar hoje.
No que consiste essa transformação social?
Em 1954, um cara chamado Abraham Maslow publicou o livro “A Theory of Human Motivation” (Uma teoria da motivação humana). Foi a primeira pessoa a trazer o conceito de Hierarquia das Necessidades, baseado em observação de macacos.
Maslow percebeu que o homem persegue as coisas na vida baseado numa escala hierárquica e, enquanto não alcança o nível mais próximo, sequer pensa sobre os níveis mais altos.
Assim, o ser humano precisa, antes de qualquer coisa, satisfazer as necessidades fisiológicas e depois as necessidades vão aumentando na hierarquia por ele observada. A pirâmide funciona de forma micro e de forma macro, ou seja, ao longo de um dia também é possível observar as necessidades se manifestando. É por isso que, por exemplo, não dá pra conversar sobre assuntos difíceis com alguém esfomeado. A pessoa, se for das mais nervosas, vai te esbofetear se você insistir muito. No panorama maior o sentido é o mesmo: à medida em que a pessoa humana evolui e garante a sua alimentação e a sua segurança ela começa a buscar amor, estima e realização.
Trazendo isso para a realidade do Brasil, a minha percepção é que à medida em que o país evoluiu (houve o plano real, a estabilização da economia e da inflação etc.), um pouco mais de riqueza foi distribuída aos seus cidadãos (aos pouquinhos, é verdade) e com isso a pirâmide veio sendo gradativamente escalada e muitas pessoas começaram a ficar mais sedentas por realização pessoal, algo que está intimamente ligado aos tão propagados conceitos de "propósito" e "causa".
Quanto mais isso fora acontecendo, muitas pessoas foram engrandecendo os seus espíritos à medida que enxergavam além do que seus pais jamais enxergaram e começaram a seguir a jornada rumo a um novo patamar, uma época onde comprar já não é mais só sobre preço, mas também sobre o que essa empresa que estou comprando faz pelo mundo, trabalhar não é mais só sobre salário, mas sobre quais causas essa empresa que trabalho escolhe para defender. Nesse contexto, empreender não é só abrir um restaurante (por exemplo) porque eu sei cozinhar bem, é mostrar ao mundo que eu acredito na causa do cuidado com os animais e no meu estabelecimento eles são bem-vindos e bem cuidados enquanto você aprecia os meus deliciosos pratos.
E onde está o problema?
Você deve estar achando meu texto contraditório, pois eu comecei falando que a maioria das pessoas tem empregos que apequenam seus espíritos e depois disse que muitas pessoas foram engrandecendo seus espíritos. Calma! Eu vou chegar lá e você vai entender meu ponto.
Muitas das grandes e tradicionais empresas não têm conseguido acompanhar esse movimento. Infelizmente, em se tratando de Brasil, ainda são poucas as empresas que dão aos seus funcionários orgulho de trabalharem ali. Estou falando de empresas que compreendem, não a necessidade de escrever a missão num quadro na recepção, mas o contexto da mudança que ocorreu no mundo, da escalada das pessoas e das próprias organizações na pirâmide de Maslow, e que agora naturalmente anseiam mostrar ao mundo a que vieram.
Grandes empresas são como navios com capitães de cabelo branco: é difícil convencê-los que o mundo mudou e que devem mudar de rota. E mesmo quando isso acontece, não é rápido mudar um transatlântico de direção. Por isso muitas startups crescem exponencialmente, porque conseguem se adaptar e mudar mais rápido, sempre que necessário.
Mesmo agora, depois da pandemia quando muitas das grandes empresas se digitalizaram, não é fácil encontrar aquelas que realmente internalizaram esse movimento. Veja só, não estou falando de empresas que se reinventaram para continuar sobrevivendo, mas das que conseguiram redescobrir, nas suas origens, a essência principal, a primeira proposta de valor, aquela que tem o poder de mudar o mundo.
E é aí que entram essas milhares de pessoas que escalaram na pirâmide de Maslow enquanto seus empregadores não o fizeram. Há um evidente choque de gerações: temos muita gente que não se identifica com o lugar que trabalha, mas permanece porque depende do salário.
Me identifiquei com tudo isso. Devo pedir demissão?
Jamais! Eu não sei o seu contexto, nem suas aspirações e inspirações, muito menos os aspectos financeiros de sua vida, que jamais devem ser colocados de lado. Eu apenas quero aqui plantar uma sementinha na sua cabeça: você pode estar infeliz porque leva uma vida inconsistente.
Falo de uma vida em que os dias passam e você não sabe aonde quer chegar. Não é problema permanecer em um emprego que não te inspira até que consiga algo melhor, o problema real é deixar seus sonhos para depois, é a procrastinação dos seus projetos pessoais. Se você tem esse espírito empreendedor (no sentido mais amplo da palavra), você tem a obrigação de empreender, porque a sua ideia pode transformar vidas e melhorar pessoas. Você pode, inclusive empreender no seu próprio emprego, impactar positivamente chefes e colegas e transformar aos poucos o lugar em que trabalha. Quem disse que precisa pedir demissão?
Olha só, eu acredito firmemente que todos nós temos uma missão nessa vida. Foi por causa dela que ganhamos tantos dons e talentos. Nascemos e vivemos orientados para cumprir essa missão, como uma bússola procurando o norte, e enquanto não o fazemos, não encontramos o sentido pleno das nossas ações.
Mas nem eu e nem você podemos ser utópicos. É preciso ter o pé no chão. Você precisa empreender enquanto a vida acontece, sem deixar de cumprir suas obrigações e honrar seus compromissos. Faça, devagar mas faça. Manter-se inerte é promover uma verdadeira destruição espiritual.
Se um dia você tiver oportunidade, assista ao filme “A invenção de Hugo Cabret”. Nele há um ensinamento muito simples e profundo, o de que o mundo é uma grande maquina onde todas as peças têm a sua função.
Eu acredito, mesmo, que você tem a sua função no mundo, o seu porquê de ser. Deixar de agir segundo esse porquê é como colocar uma engrenagem de tamanho errado no lugar errado. A maquina não funciona bem, a peça é forçada e fica desgastada (infeliz, por assim dizer).
Se você está nesse caminho de infelicidade, buscando só o dinheiro ou a estabilidade, eles podem até vir, mas provavelmente virão acompanhados de vazios, lacunas não preenchidas. Por outro lado, quando o seu guia é a sua missão, as respostas vêm, e podem até trazer dinheiro junto.
Seja lúcido
Se esse texto serviu para regar mais um pouco a sementinha que você já tem plantada no seu coração, eu sugiro que comece imediatamente um planejamento que lhe permita perseguir o seu sonho de forma lúcida. Você deve construir todas as bases para poder, um dia, tomar uma decisão mais séria e definitiva.
Se desejar, dê uma olhadinha no meu e-book Produtividade Antes das 8. Ele fala bastante sobre. como fazer um planejamento inteligente e executá-lo com consistência.
Só mais uma coisa
Não espere nem mais um segundo para começar. Empreenda! Você é senhor genuíno de si, portanto tome posse de si mesmo e de sua felicidade. Pare de destruir o seu espírito, reconstrua-o agora mesmo.
Você sabe o que precisa ser feito. Tenho a certeza de que, lendo esse texto, você teve muitas ideias novas ou se lembrou das que já tinha. Não se trata tanto de “o que fazer”, mas de “fazer”. Não importa a sua idade nem a sua condição financeira, apenas planeje e comece.
Se você acredita que Deus lhe dotou de dons, de talentos e de uma missão, se você crê firmemente nisso, então meu amigo, empreender, servir e levar seus dons ao mundo não é mais uma opção, é uma obrigação.
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